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Projeto de escola pública do Tocantins promove troca de conhecimentos científicos e saberes ancestrais entre estudantes e tribo indígena

Foto: Márcio Vieira / Governo do Tocantins

Projeto “Vozes do passado no presente: a diversidade cultural indígena no Tocantins”, desenvolvido pelo CEM Bom Jesus, conquistou o 3º lugar na edição do Prêmio Escola que Transforma, do governo do Estado.

Em um esforço pioneiro para integrar ciência e saberes ancestrais ao currículo escolar, o Centro de Ensino Médio Bom Jesus, escola de Ensino Médio Integral, localizada em Gurupi (TO), lançou um projeto transformador que leva estudantes a vivenciarem e compartilharem conhecimentos com a tribo indígena Javaé, na Ilha do Bananal. A iniciativa faz parte da disciplina eletiva “Vozes do passado no presente: a diversidade cultural indígena no Tocantins”, que promove o encontro entre os estudantes e as comunidades das aldeias Kanuano e Boa Esperança.

O trabalho busca reverter a marginalização histórica dos saberes indígenas no contexto educacional, promovendo uma abordagem que une o rigor da ciência com a riqueza dos conhecimentos ancestrais. Além disso, segundo Valterlan Teixeira Araújo, professor de História e Sociologia e coordenador do projeto, o objetivo é construir uma formação mais inclusiva e holística, onde o conhecimento científico e os saberes tradicionais se complementam e são valorizados.

“A escola tem o potencial de se tornar um espaço de conexão entre diferentes formas de aprendizado, mostrando que ciência e cultura se complementam na busca por um futuro sustentável”, explica o professor.

Desenvolvimento e protagonismo juvenil

Desde o planejamento até a execução, os estudantes estão no centro do processo, demonstrando na prática o protagonismo juvenil e o engajamento ativo. Em parceria com a Universidade de Gurupi (UnirG) e o Grupo de Pesquisa de Observatório de Povos Tradicionais do Tocantins (OPTTINS), a eletiva permite que os alunos explorem temas transversais e desenvolvam habilidades fundamentais, que enriqueçam seu futuro. A ação também está relacionada ao projeto “(Multi)letramentos – contribuições para o ensino,” e integra disciplinas focadas em “Educação e Cultura Indígena” no currículo da escola.

Para Karla Pereira, estudante da 1ª série do ensino médio, sua participação foi essencial para que pudesse conhecer mais a cultura de povos originários, não apenas na teoria, mas também na prática.

“Escolhi essa proposta no Feirão das Eletivas e me surpreendi positivamente. Tem sido uma oportunidade de desconstruir preconceitos e promover a interculturalidade, não apenas aprendendo, mas também mostrando nossos costumes e tradições para eles. Na 10ª Sicteg (Semana Integrada de Ciência e Tecnologia) de Gurupi, apresentamos os trabalhos que desenvolvemos nas aldeias e fomos premiados com o 1º lugar na área de biologia e 2º e 3º em linguagens, o que reforçou ainda mais a sua relevância”, completa Karla.

Ciência que conquista

Os resultados vão além das trocas culturais. O trabalho também prepara os estudantes para a pesquisa científica e tem rendido premiações no estado, como o 3º lugar na edição do Prêmio Escola Que Transforma (PROFE 2023/2). Essa premiação evidencia o impacto positivo da iniciativa e fortalece a parceria da escola com instituições de ensino superior, proporcionando aos jovens discentes chances de aprofundamento científico.

Sergio Afonso Lima, aluno egresso do CEM Bom Jesus e agora estudante de Agronomia na Universidade Federal do Tocantins, reflete sobre a experiência: “participar do projeto foi transformador. As oficinas e visitas nos unem profundamente às sabedorias indígenas, e os relatos que produzimos, além de vivenciados na prática, foram apresentados em feiras científicas. Esse é um tipo de experiência que muda a visão de mundo de qualquer estudante”, finaliza.

Importância do Ensino Médio Integral

Iniciativas como essa são possíveis graças ao modelo de Ensino Médio Integral adotado pelo CEM Bom Jesus, que oferece um ambiente favorável ao protagonismo estudantil e ao desenvolvimento integral dos jovens. Por meio de componentes curriculares diferenciados, como as eletivas, os jovens têm a chance de explorar seus interesses em profundidade, vivenciando experiências educacionais que vão além da sala de aula.

Para o coordenador do projeto: “o Ensino Médio Integral nos permite conectar teoria e prática de forma dinâmica, preparando nossos alunos para serem protagonistas em seus próprios projetos de vida e para refletirem sobre o papel que desempenham na sociedade,” salienta.

Continuidade

Atualmente, com cerca de 30 estudantes de diferentes séries envolvidos, o “Vozes do passado no presente: a diversidade cultural indígena no Tocantins” está em plena execução e deve continuar a ser ofertado nos próximos semestres. Mais informações e atualizações podem ser consultadas através do Instagram do Grupo de Pesquisa OPTTINS (@opttins) e do CEM Bom Jesus (@cem.bom.jesus).

Sobre o Ensino Médio Integral

O Ensino Médio Integral é uma proposta pedagógica multidimensional, moderna, nacional, pública e gratuita. A partir de um modelo de ensino que se conecta à realidade dos jovens e ao desenvolvimento de suas competências cognitivas e socioemocionais, propõe a formação integral dos estudantes. Trabalha pilares como projeto de vida, aprendizado na prática, tutoria, protagonismo juvenil, acolhimento, orientação de estudos e eletivas, que promovem a formação completa do estudante, junto aos componentes curriculares já previstos na BNCC. Está presente em cerca de 6 mil escolas em todo o país, beneficiando mais de 1 milhão de estudantes.